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Quando as Leis Renegam a Moral



Uma das piores heranças que o século XIX pôde ter legado à posteridade, foi o equívoco de tomar conceito por realidade e revolução por progresso.

Tais concepções, quando unidas, no interior de mentes vís, fundem a explosiva equação: revolução de conceito é igual à progresso de realidade - nisto situa-se toda a ruína moderna.

A intentiva de modificar a realidade ao bel prazer, que era antes apenas um sonho abobado em momentos de puro ócio, tornou-se, não apenas uma possibilidade, como regra, em diversos Estados, autarquias políticas e des-organizações governamentais. 

O poder financeiro aliado à aspirações satânicas encontrou terreno fértil em meio ao cenário de maquetes sociais e experimentações genocidas. Protegidos em suas cúpulas de zinco, autoridades assinam e reformulam leis, como o novelista que escreve um conto por corrigir, sempre pronto a editar, grafar e reordenar o conteúdo da história. À espreita, populações crentes em terem participação em suas decisões, relés platéia e instrumento, diante de seus experimentos, quando não apenas cegas apoiadoras de sua própria ruína.

Em um universo onde leis tornaram-se bússola de moral e fábrica de direitos, quem as tiver em mãos, toma também o mundo. A descomunal autoridade outorgada a simples corpos políticos é abismal. Não apenas pela parca presunção de desenhar a realidade como bem se apraz, mas pela simples tentativa de realizar qualquer ação que não aquela que lhes é devida - cultivar a ordem das causas mesmas na sociedade, a fim de que tudo seja devidamente ordenada segundo sua natureza, como bem postulou Aristóteles. 

O que se vê atualmente, é nada mais que a total distorção da realidade, a desordem e a indiferença a qualquer causa, e a negação completa da natureza. 

"Se a realidade pode ser moldada por leis, lutemos por privilégios, exijamos redenção", parece ser a conclusão inevitável dos aloucados desse tempo. E, como se as leis, verdadeiramente modificassem a realidade, a culpa por atos maléficos, parece-lhes ilusoriamente atenuada a cada nova canetada de aprovação legislativa, que permite-lhes executar seus sórdidos atos à luz das autoridades sem que lhes seja imputado crime, ainda que, em essência, a natureza criminal prossiga incólume. 

Não iludam-se pois, a realidade não se modifica, o mal é existente e a paga pelos maus atos é certa. Não serão autoridades, juristas, teóricos e filosófos que modificarão tal condição. Desta feita, somos todos espectadores e meros aprendizes.

Leis não tornarão homens bons, homens ricos, homens redimidos, e menos ainda, felizes. As leis são apenas a tradução de um princípio imanente, que, como dito por Galvão de Souza, tem seus postulados intrínsecos - devem resumir-se a dirigir os atos do homem ao bem, evitando o mal, usufruindo de toda a extensão natural que lhe é devida, sendo aplicada a todo homem universalmente (e nada mais). 

As cambalhotas legislativas e toda espécime de sordícies desejosas, por uma população bestial, entulhada de vícios e carências espirituais, podem ter prestígio em um mundo que "jaz do maligno", mas o sublime, a que verdadeiramente devemos valor, é cada vez mais inalcançável.

Onde a escolha pelo paraíso terreno se fez presente, a ausência do celeste é inevitável, e, todo aquele que apoia ou isenta-se ante a atos repulsivos, traduz a si mesmo em abominável. O valor pelo sangue inocente derramado será alto, tal como pela indiferença e assentimento diante de atos maléficos.

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