Tal fera indômita e incorrigível é a mente que transborda a ânsia pelo infinito.
Inicio esse escrito pelo fim, justificando-me perante a invisível platéia diante de mim – buscava unicamente um pretesto.
Saudações a todos! O medo antigo retornou!
Não quero assustá-los, por falta de melhores modos de enfrentar o vício, defrontá-lo parece-me o mais cabível. Afinal, Aristóteles não os colocaria como extremidades de um mesmo ângulo donde o meio unicamente constrói as virtudes – o árduo equilíbrio, se não o pudéssemos domesticar.
Peço licença aos conterrâneos, serei aqui mais literata que filósofa; mais poetisa que teóloga, e entre dois ângulos, uma lírica de tavernas. Mas onde estávamos? Ah! O medo. Sim, paixão que desprezo (perdoe-me Sto. Tomás) e quisera eu certo dia excluí-la de meu vocabulário. Impossível missão, visto que o sucesso de sua aniliquilação provaria justamente sua existência... Mas deixemos de lado as divagações caducas, não mais delongarei.
Não é novidade que o cosmos interno é supremo ao externo. Não, não me impressiono, como os boquiabertos, pelas esferas massíficas, conglomerados rochosos e aeriformes que pairam sobre nossas cabeças, ou como diriam os mais contemporâneos, abaixo de nossos pés. A extensão do universo não me comove, não me atormenta, e tampouco perturba meu intenso sono. O que há de maior, posto aqui, essa dimensão interior, é o que verdadeiramente me atordoa.
A busca por entes para escoar o indisível, pareceria a prova perfeita para a resposta de minha questão - a realidade é mais previsível e monótona do que disporia-me a confessar?
Compreendam-me caros, não é medo do erro, aquele filho do orgulho, bastardo da vaidade. É um genuíno e vulnerável medo de distanciar-me de tal modo dela (atualmente tão preterida realidade) que os símbolos se desagreguem e flutuem livres e portentosos, como no espaço, distraindo-me e seduzindo-me a voltar-me contra si.
É preciso mesmo de tal condição? Lidar com sua previsibilidade e coordenação é como uma incompatibilidade com a qual me recuso a enfrentar. Se meu estigma é buscar pela ordem, qual seria a serventia dessa função?
Errei então, como só humanos são passíveis de errar – deixei que a paixão me movesse – o medo de ver o mais fiel e concebível dos lugares – a normalidade.
A evitação me fez confessar, muito antes de agir, que seria inevitável, intragável, admitir, que o interior não estende pontes com o externo e nos poucos instantes que se tocam, repelem-se a si, apenas para tentarem entrelaçar-se novamente.
Encaro o temor, defronte à realidade, temperada pelo significado, anelando que o real e o ideal se contemplem, para que finalmente se façam as pazes, quando por fim, não mais serão necessárias as criações entitativas para considerar o real como verdadeiramente é. Será o consolo, de finalmente saber – o mundo externo é superlativo a este aqui – então fatalmente, sem subterfúgios, poderei sair.
Comentários
Postar um comentário