Nesse baile de máscaras, onde a encenação impera e a sanidade é um devaneio disfarçado, tomo meu lugar em meio à plateia e observo as cenas à minha frente. Por momentos quase me sinto mestre do picadeiro, com roteiro escrito, posso prever os eventos, narrá-los profeticamente, o que enlaça minha atenção e quase se torna enfadonho. Inesperadamente, surge tal figura à minha frente, um ilusionista, alto e de cabelos espessos, magistral em seus truques, que inicialmente, confesso, pensei serem comuns. A medida que elaborava seu número, notei sua diferença dos demais, além de seus arrojados truques, ele não usava máscara. Estranhamente o público não parecia notar sua dessemelhança, perguntei-me se somente eu percebera tal particularidade. Seu compenetrado olhar em minha direção logo me fez constatar que minha desconfiança estava certa; aos outros, ele prosseguia disfarçado. Por alguns momentos senti seu desconforto ao executar suas façanhas, tendo conhecimento de minha percepção translúcida,...
Michael Cheval, "Charmer of the Attraction". R espeitável público, o espetáculo vai começar! Não há como negar a existência de certa fúria interna que assemelha-se a uma pura e despretensiosa descontração, a tal “sublimação” humana. O humor tem seus mistérios, afinal. Não por acaso, o teatro grego nos presentou com a manifestação de dois opostos estados humanos, a tragédia e a comédia. A primeira diz respeito ao excesso de verdade, a segunda, ao seu disfarce simbólico, o que explica o uso de máscaras nas primeiras aparições artísticas e a viagem a um estado quase inocente de consciência. Ah... uma troça à democracia, diziam alguns, pobres necessitados de excelência! Para mim, apenas mais uma urgência humana em escoar insatisfações de modo socialmente aceitável, ou mesmo, de rememorar aquele período no qual a ótica minimalista infantil possibilitava grandes abstrações. Dissequemos aqui, então, meus caros, o arquétipo do deus Momo, ou Μώμος (Momos), do grego “deboche”, co...